Não tendo qualquer experiência na lecionação de PLA, a minha perspetiva é apresentada enquanto docente de Português, podendo perder a especificidade inerente ao contexto. Ainda assim, é seguro afirmar que as estratégias aplicadas pela professora Raquel Pereira funcionaram, uma vez que foram ao encontro das expectativas e necessidades do grupo de trabalho. A ideia de que não é possível trabalhar de uma forma homogénea com um grupo que não o é parece-me fundamental. Eventualmente, nós sempre soubemos isto, mas assumir que vamos ter de ajustar as nossas práticas a cada um dos elementos que compõem uma turma num horário que se espraia por diferentes turmas é um desafio difícil de assumir.
De facto, foi o que a professora Raquel Pereira fez. Face a diversidade presente nos seus formandos, fosse pela presença de diferentes ritmos de aprendizagem, fosse pelo diferentes níveis de língua, sobretudo se considerarmos a origem tão diversa dos seus 14 formandos, a assunção de uma pedagogia diferenciada foi o ponto de partida para o desafio que se lhe apresentava.
Se algumas das estratégias foram definidas de início, outras foram sendo ajustadas, à medida que o seu conhecimento do grupo progredia. Como ponto de partida, e tendo por base esta opção metodológica, foram criados grupos flexíveis de trabalho, que permitiram acomodar ritmos de aprendizagem e proximidade entre as línguas de origem; foram adotados materiais desenvolvidos por diferentes manuais e criados outros adaptados às necessidades do momento; foram utilizados recursos específicos, como é o caso de abordagens específicas para hispanofalantes; foi definida uma linha condutora para os trabalhos de casa e definidas estratégias para recuperação de aprendizagens perdidas por ausências prolongadas; foram exploradas questões culturais, através da criação de tópicos de discussão e partilha de vivências e produtos culturais. A par destas estratégias, eventualmente definidas a priori, foram criadas ou ajustadas outras, como a definição de um momento inicial de cada aula, consagrado ao diálogo e à partilha entre todos; a conceção de um momento final de consolidação de aprendizagens, ora remetido para um espaço extra-aula, ora prolongando o tempo de aula previsto; a correção individual do trabalho de casa, num esforço claro de personalização, cujos benefícios puderam ser potenciados.
Diria que todas as estratégias elencadas resultam bem, se forem adequadas a um público específico. Neste caso, parecem ter resultado melhor aquelas que foram criadas como resultado de uma quase customização do ensino. Tal como os alunos de PLNM, também os adultos de PLA reconhecem quando os professores verdadeiramente se importam e vão além do que está previamente estabelecido. Foi essa a conclusão a que a professora Raquel Pereira chegou e parece ser a mais ajustada.
Exatamente por não estar ciente do contexto, torna-se mais difícil a proposta de estratégias alternativas, ainda assim, e por se tratar de um público adulto, valeria a pena optar por abordagens menos tradicionais de ensino da língua. A simulação de situações reais pode ser uma boa estratégia, através de recursos como o role play ou a prática simulada. Esta abordagem poderia ser particularmente relevante para o domínio de campos lexicais, que havia sido uma fragilidade identificada aquando do diagnóstico. Outra das fragilidades havia sido a produção escrita. De modo a imprimir alguma motivação neste domínio, poder-se-iam implementar estratégias de heterocorreção, que promovem um foco maior nas produções próprias e o reconhecimento de dificuldades comuns nas produções dos outros.