Discussão/ Reflexão: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA: Caso prático

Discussão/ Reflexão: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA: Caso prático

Discussão/ Reflexão: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA: Caso prático

por Elisabete Henriques -
Número de respostas: 1

Raquel Pereira utilizou uma abordagem inovadora e inclusiva para lidar com a heterogeneidade nas aulas de Português Língua de Acolhimento (PLA) destinadas a alunos migrantes do Centro Nacional de Apoio à Integração de Migrantes (CNAIM) do Porto. A sua metodologia foca-se na valorização da diversidade linguística e cultural dos alunos, criando um ambiente de aprendizagem acolhedor e eficaz.

Relativamente às estratégias adotadas, Raquel Pereira começa com um diagnóstico inicial para entender o nível de proficiência e as necessidades individuais de cada aluno. Esta estratégia é essencial, pois permite personalizar o ensino, garantindo que cada aluno receba o suporte adequado. A professora utiliza materiais autênticos e culturalmente relevantes que refletem a realidade dos alunos. Isto não só facilita a aprendizagem da língua como também promove o envolvimento e a identificação dos alunos com o conteúdo. Por outo lado, incentivar a colaboração entre os alunos é uma estratégia eficaz para promover a troca de conhecimentos e experiências. O trabalho em grupo permite que os alunos com diferentes níveis de proficiência se ajudem mutuamente, criando uma dinâmica de ensino-aprendizagem mais rica. Também o uso de ferramentas digitais e recursos online é outra estratégia importante. Estas tecnologias podem oferecer práticas personalizadas, acesso a uma variedade de conteúdos e a possibilidade de interação em tempo real, facilitando a aprendizagem. Por último, Raquel Pereira dá ênfase ao feedback contínuo e formativo, o que ajuda os alunos a identificar as suas dificuldades e progressos, permitindo ajustes contínuos no processo de aprendizagem.

Na minha opinião, as estratégias utilizadas por Raquel Pereira são amplamente eficazes, especialmente considerando a diversidade do seu público-alvo. A personalização do ensino e o uso de materiais autênticos são especialmente eficazes para envolver os alunos e responder às suas necessidades específicas. A aprendizagem colaborativa promove um ambiente inclusivo e facilita a integração dos alunos. A tecnologia, por sua vez, amplia os recursos disponíveis e a flexibilidade na aprendizagem.

Das estratégias mencionadas, destacam-se pela sua eficácia:

- Diagnóstico Inicial e Personalização: Fundamental para entender as necessidades específicas de cada aluno e adaptar o ensino de maneira eficaz.

- Aprendizagem Colaborativa: Promove uma troca de experiências e conhecimentos que enriquece a aprendizagem.

- Uso de Materiais Autênticos: Torna a aprendizagem mais relevante e envolvente para os alunos.

Com base na bibliografia relevante para o ensino de PLA, algumas estratégias adicionais podem ser consideradas, nomeadamente:

- Método Comunicativo: A abordagem comunicativa e a utilização de tarefas autênticas podem facilitar a aquisição da língua através da ênfase na comunicação real e em tarefas significativas. Este método pode ser enriquecido com atividades que simulam situações da vida quotidiana.

- Ensino Baseado em Projetos: O ensino baseado em projetos permite que os alunos trabalhem em projetos de longo prazo que integrem diversas habilidades linguísticas e culturais, promovendo uma aprendizagem mais profunda e contextualizada.

- Portefólio de Aprendizagem: Incentivar os alunos a manterem um portefólio onde possam registar o seu progresso, reflexões e trabalhos. Este recurso pode ajudar na autoavaliação e na perceção do próprio desenvolvimento.

- Apoio Psicossocial: Considerar o suporte psicossocial como parte do processo educativo. Muitos alunos imigrantes e refugiados enfrentam desafios emocionais e sociais que podem impactar a sua aprendizagem. Programas de apoio psicossocial podem ser integrados ao currículo.

- Comunidade de Prática: Criar uma comunidade de prática entre professores de PLA para troca de experiências, materiais e estratégias. Isto pode enriquecer o repertório de métodos de ensino e promover uma abordagem mais coesa e colaborativa.

Em conclusão, as estratégias de Raquel Pereira demonstram uma abordagem compreensiva e eficaz para lidar com a heterogeneidade em salas de aula de PLA. A sua ênfase na personalização, colaboração e uso de materiais autênticos destaca-se como altamente eficaz. Outras estratégias, como o método comunicativo e o ensino baseado em projetos, podem complementar o seu método, tornando o ensino ainda mais robusto e inclusivo. Em última análise, a chave está em adaptar o ensino às necessidades dos alunos e promover um ambiente de aprendizagem acolhedor e significativo.

Em resposta a 'Elisabete Henriques'

Re: Discussão/ Reflexão: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA: Caso prático

por João Paulo Pereira -
Cara Elisabete
Faz uma análise muito completa da intervenção pedagógica da professora Raquel Pereira, que se deparou com uma turma com uma "vincada heterogeneidade" (para usar uma expressão da própria) a vários níveis, realidade que caracteriza os cursos de Português Língua de Acolhimento (PLA). Refere a importância do diagnóstico inicial (que prenuncia o uso da pedagogia diferenciada ao perguntar qual o método de trabalho preferido) e a aprendizagem colaborativa, através da constituição de grupos flexíveis, que se insere, como vimos, nas práticas pedagógicas diferenciadas. Neste âmbito, refere também, e muito bem, instrumentos reguladores de aprendizagem, como o Portefólio.
Depois, apresenta também como estratégia importante o uso de ambientes e ferramentas digitais. Embora, neste caso, se deva ter em conta que entre o público de PLA há alunos com pouca ou nenhuma literacia digital. Há que pensar na melhor forma de implementar esse tipo de recursos sem excluir ninguém.
Destaco as estratégias adicionais que apresenta, com base na bibliografia (embora não refira qual). Sobretudo a que respeita à criação de uma comunidade de prática entre os professores de PLA para partilha de experiências, materiais e estratégias. Infelizmente, como sabemos, não existe muito esta esta troca informada e construtiva entre pares.
Para complementar a sua excelente análise, deixo-lhe a minha própria reflexão.
Enquanto professores de PLA, devemos ter em conta as idiossincrasias de uma realidade ligada à imigração que levanta questões acrescidas, dada a situação de vulnerabilidade (afetiva, social e económica) em que muitas vezes este tipo de público se encontra. O impacto pedagógico é significativo e exige respostas específicas, idealmente articuladas com outros profissionais (Grosso, 2021). Temos de lidar com um contexto educativo marcado concretamente por: uma heterogeneidade de trajetórias de aprendizagem e de perfis sociolinguísticos; baixa assiduidade dos aprendentes (ou atraso na chegada às aulas), devido a questões laborais ou dificuldades de transporte; condições de vulnerabilidade social e afetiva (Bottura e Gattolin, 2023).
É neste contexto que temos de analisar as respostas educativas de Raquel Pereira, no âmbito do curso ministrado a imigrantes no Centro Nacional de Apoio à Integração de Migrantes (CNAIM) do Porto. A "heterogeneidade vincada", expressão utilizada pela própria, revela bem aquele que foi o grande desafio enfrentado. Perante esta realidade, a professora não teve dúvida em implementar uma pedagogia diferenciada.
Começo por assinalar o facto de ter sido preenchida uma ficha sociolinguística e ministrado um teste diagnóstico, que vieram corroborar a heterogeneidade da turma e que reforçaram a convicção da docente na necessidade de aplicação de uma pedagogia diferenciada. A docente parecia já ter esta decisão tomada antes de iniciar os trabalhos com a turma, pois inclui na ficha sociolinguística uma questão sobre os métodos preferidos de trabalho dos aprendentes e outra sobre interesses pessoais.
Quanto à utilização de estratégias que se inserem no âmbito da pedagogia diferenciada, a docente refere a constituição de grupos flexíveis, de acordo com o nível linguístico, da língua e dos ritmos de aprendizagem, a aprendizagem cooperativa ou a produção de materiais para aprendentes de línguas específicas.
Não há, no entanto, referência a instrumentos reguladores da aprendizagem, como o Plano Individual de Trabalho (PIT), que poderia apoiar de forma mais efetiva esta prática pedagógica. Refere a professora que, quando os aprendentes não apareciam durante um número significativo de aulas, lhes era pedido que resolvessem os exercícios mais importantes da unidade temática. Com um PIT, tanto os objetivos como as tarefas da unidade temática estariam claramente definidos, sabendo claramente o aprendente o que teria de fazer. Por outro lado, o PIT poderia contemplar também o estudo autónomo, outra parte essencial de diferenciação do ensino e das aprendizagens.
Quanto ao recurso ao trabalho de casa para efeitos de revisão e sistematização, assim como base para o registo das dificuldades individuais, não é garantido que tal estratégia resulte. Por um lado, sabemos da falta de tempo, por razões laborais, que os aprendentes têm para realizar as tarefas escolares fora da sala de aula. Por outro, trata-se de um público com uma assiduidade irregular.
Em termos de materiais didáticos, parece acertada a criação de materiais para aprendentes de línguas específicas e a adaptação de vários manuais. A criação de tópicos com base nos interesses dos aprendentes é outra das estratégias que se enquadra na pedagogia diferenciada e que merece ser destacada.
Finalmente, uma palavra para referir a preocupação da docente em promover o diálogo intercultural, de que é exemplo a partilha de produtos típicos do país de origem durante a aula.
Em suma, são vários os desafios na implementação da pedagogia diferenciada na aula de PLA. Se consultarmos o trabalho da docente, vemos quais foram essas dificuldades, que se prendem com a gestão da heterogeneidade na sala de aula (a falta de tempo para a concretização da unidade letiva, devido à divisão em grupos; o facto de certos alunos não reagirem bem a trabalhar em grupo; a sensação de dar mais atenção aos aprendentes que chegam de novo do que aos aprendentes fixos; etc.).