Discussão/ Reflexão: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA: Caso prático

Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA

Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA

por Rosalina Vieira -
Número de respostas: 1

Não tenho experiência com alunos de PLA, mas considero que as estratégias apresentadas pela professora Raquel Pereira são adequadas e adaptadas ao público alvo em questão. Pela elevada heterogeneidade é muito difícil e trabalhoso implementar estratégias profícuas para estes alunos. Das que a professora Raquel apresenta considero que a organização dos alunos em grupos de trabalho por níveis de língua e ritmo de aprendizagem; Criação de tópicos de discussão para motivar os alunos e a partilha de produtos típicos do país de origem serão as que melhor resultarão. Pois os alunos sentir-se-ão mais motivados, melhor acolhidos e integrados. Nem sempre funcionará da mesma maneira, depende dos grupos, especialmente pela partilha e exposição, se for um grupo de alunos introvertido será mais difícil de implementar. O trabalho de casa e os exercícios para os alunos mais faltosos beneficiarão os que têm mais dificuldade em se expor, pois é um trabalho mais individual e de treinamento. No entanto, nem sempre será proveitoso, uma vez que, como são alunos adultos, poderão não ter tempo para o executar.

Para além destas estratégias proporia a utilização de materiais didáticos digitais (plataformas de jogos, exercícios, conjugadores verbais interativos, manuais digitais, testes e outros) estes materiais, por si só, já são mais aliciantes e motivadores, elevam o interesse e captam a atenção do utilizador. Também, aqui o feedback é imediato, se os alunos fizerem um exercício ou teste digital têm o resultado na hora, este procedimento torna o ato de aprender mais leve e eficiente.

Em suma, qualquer estratégia que promova a integração e inclusão e permita ao aluno aprender para progredir será eficaz e concorrerá para uma melhor educação.  

Em resposta a 'Rosalina Vieira'

Re: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA

por João Paulo Pereira -
Cara Rosalina
Apesar de não ter experiência de ensino de PLA, fez uma análise correta da ação pedagógica da professora Raquel Pereira. O grande desafio era gerir a 'vincada heterogeneidade' da turma, com todas as questões associadas à volatilidade deste público em termos de assiduidade, a que se soma uma dimensão afetiva também presente (decorrente do contexto de imigração, com todos os obstáculos e pressão social que existem).
A pedagogia diferenciada parece responder, neste contexto, à heterogeneidade deste tipo de público. Identificou algumas das estratégias utilizadas neste âmbito, como a constituição de grupos flexíveis. Questiona, muito bem, o uso do trabalho de casa. Também considero que a sua eficácia é limitada, dado a falta de tempo dos alunos para os realizar.
Depois, apresenta como estratégias que podiam ser utilizadas o uso de ambientes e ferramentas digitais. Embora, neste caso, se deva ter em conta que entre o público de PLA há alunos com pouca ou nenhuma literacia digital. Há que pensar na melhor forma de implementar esse tipo de recursos sem excluir ninguém.
Finalmente, faltou mobilizar alguma da bibliografia, como era solicitado.
Para complementar a sua resposta, deixo-lhe a minha própria reflexão sobre este caso.
Enquanto professores de Português Língua de Acolhimento (PLA), devemos ter em conta as idiossincrasias de uma realidade ligada à imigração que levanta questões acrescidas, dada a situação de vulnerabilidade (afetiva, social e económica) em que muitas vezes este tipo de público se encontra. O impacto pedagógico é significativo e exige respostas específicas, idealmente articuladas com outros profissionais (Grosso, 2021). Temos de lidar com um contexto educativo marcado concretamente por: uma heterogeneidade de trajetórias de aprendizagem e de perfis sociolinguísticos; baixa assiduidade dos aprendentes (ou atraso na chegada às aulas), devido a questões laborais ou dificuldades de transporte; condições de vulnerabilidade social e afetiva (Bottura e Gattolin, 2023).
É neste contexto que temos de analisar as respostas educativas de Raquel Pereira, no âmbito do curso ministrado a imigrantes no Centro Nacional de Apoio à Integração de Migrantes (CNAIM) do Porto. A "heterogeneidade vincada", expressão utilizada pela própria, revela bem aquele que foi o grande desafio enfrentado. Perante esta realidade, a professora não teve dúvida em implementar uma pedagogia diferenciada.
Começo por assinalar o facto de ter sido preenchida uma ficha sociolinguística e ministrado um teste diagnóstico, que vieram corroborar a heterogeneidade da turma e que reforçaram a convicção da docente na necessidade de aplicação de uma pedagogia diferenciada. A docente parecia já ter esta decisão tomada antes de iniciar os trabalhos com a turma, pois inclui na ficha sociolinguística uma questão sobre os métodos preferidos de trabalho dos aprendentes e outra sobre interesses pessoais.
Quanto à utilização de estratégias que se inserem no âmbito da pedagogia diferenciada, a docente refere a constituição de grupos flexíveis, de acordo com o nível linguístico, da língua e dos ritmos de aprendizagem, a aprendizagem cooperativa ou a produção de materiais para aprendentes de línguas específicas.
Não há, no entanto, referência a instrumentos reguladores da aprendizagem, como o Plano Individual de Trabalho (PIT), que poderia apoiar de forma mais efetiva esta prática pedagógica. Refere a professora que, quando os aprendentes não apareciam durante um número significativo de aulas, lhes era pedido que resolvessem os exercícios mais importantes da unidade temática. Com um PIT, tanto os objetivos como as tarefas da unidade temática estariam claramente definidos, sabendo claramente o aprendente o que teria de fazer. Por outro lado, o PIT poderia contemplar também o estudo autónomo, outra parte essencial de diferenciação do ensino e das aprendizagens.
Quanto ao recurso ao trabalho de casa para efeitos de revisão e sistematização, assim como base para o registo das dificuldades individuais, não é garantido que tal estratégia resulte. Por um lado, sabemos da falta de tempo, por razões laborais, que os aprendentes têm para realizar as tarefas escolares fora da sala de aula. Por outro, trata-se de um público com uma assiduidade irregular.
Em termos de materiais didáticos, parece acertada a criação de materiais para aprendentes de línguas específicas e a adaptação de vários manuais. A criação de tópicos com base nos interesses dos aprendentes é outra das estratégias que se enquadra na pedagogia diferenciada e que merece ser destacada.
Finalmente, uma palavra para referir a preocupação da docente em promover o diálogo intercultural, de que é exemplo a partilha de produtos típicos do país de origem durante a aula.
Em suma, são vários os desafios do ensino e aprendizagem do PLA, assim como da implementação da pedagogia diferenciada neste contexto específico. Se consultarmos o trabalho da docente, vemos quais foram essas dificuldades, que se prendem com a gestão da heterogeneidade na sala de aula (a falta de tempo para a concretização da unidade letiva, devido à divisão em grupos; o facto de certos alunos não reagirem bem a trabalhar em grupo; a sensação de dar mais atenção aos aprendentes que chegam de novo do que aos aprendentes fixos; etc.).