Reflexão – gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA: caso prático.
Sendo o professor aquele que abre caminhos e que perante a diversidade de recursos pedagógicos existentes é o que escolhe, perante o perfil dos aprendentes, parece-me, bem a escolha levada a cabo pela Raquel Pereira, que atendendo à vincada heterogeneidade (diferenciação interna), procurou encetar na sala de aula uma aprendizagem socio-construtiva (premeia a dimensão intercultural, por conseguinte, é inclusiva), isto é, a metodologia da diferenciação pedagógica. Só assim, poderia atender a cada um dos perfis socioculturais e acolhê-los.
Não existindo métodos ou estratégias absolutas, esta é a que vai ao encontro das necessidades dos aprendentes, colocando-os no centro dos processos de ensino aprendizagem, dando-lhes feedback quanto ao seu desempenho, partindo do que sabem, assumindo que têm experiências anteriores, vivências anteriores (língua/cultura/etc.), ritmos de aprendizagem próprios, abrindo-lhes caminhos, etc...
Pressupostos:
- Trabalho individualizado
- Técnicas flexíveis – trabalho de equipa (havendo diversidade)
- Adaptações curriculares – flexibilidade - gerir o currículo* – cada aluno com um processo de aprendizagem (começar no ponto onde se está; estabelecer objetivos de aprendizagem baseados nas capacidades particulares dos alunos).
- Autorreflexão por pate dos alunos – consciência do seu ritmo e das aprendizagens a alcançar e alcançadas – processo que pretende ser motivador e estimulante.
*carece duma planificação ativa por parte do professor
Assim, Raquel Pereira considerou ser esta metodologia adequada para a turma migratória heterogénea quer a nível linguístico, quer ao nível cultural.
Heterogeneidade é sinónimo de riqueza cultural e valoriza o contexto educativo.
Admite que em sala de aula a aplicação da metodologia seja um processo complexo! Porquê?
Exige do professor/mediador: esmero; rigor; dedicação; estabilidade; regularidade; fluência; coerência, deve estar constantemente alerta e atento.
Para o quê?
Para as irregularidades na assiduidade e entrada de novos aprendentes (flutuação e oscilação constantes – características intrínsecas da turma.
Esta entrada de novos aprendentes provoca o quê?
Exige uma constante reavaliação e readaptação por parte do professor para se manter o acolhimento e a integração (inclusão).
Planificação não muito longa, focar-se na aprendizagem essencial; capacidade de ser flexível e dividir atenções.
Do estudo de caso que li verifiquei a heterogeneidade da turma e anotei as estratégias que foram sendo implementadas, passando de seguida a elencá-las, de forma muita sucinta, e a tecer algumas considerações.
- Ficha de identificação (com informação importante = Ficha sociolinguística);
- Teste diagnóstico (para enquadrar os alunos no nível de proficiência adequada – nota: foi aplicado a todos, quando sabemos que estão cá há muito pouco tempo e não tiveram contacto com o Português, dispensa-se da realização deste teste; ou seja, por meio da Ficha poder-se-ia chegar aqui.);
- Aferiu as características gerais do grupo: não coeso; assiduidade irregular e ritmos de aprendizagem diferentes – razão: cumprimento de obrigações profissionais (por isso se exige flexibilidade da parte do professor/avaliador); por meio da Ficha soube quem gostava de trabalhar em grupo, ou de forma individual – tratou de conhecer os aprendentes, os seus gostos e as suas motivações.
- Planificou e adaptou recursos doutra colega - trabalho colaborativo ressaltado no documento Ei (Educação pela integração).
- Fez uso de diferentes manuais/gramáticas/caderno de exercícios adaptados às diferentes realidades – verificou uma grande falta de materiais para as alunas russas.
- Esteve atenta e flexível para mudar de estratégia quando verificou que a usada não estava a surtir o efeito desejado: TPC – primeiro fazia a correção em grupo, depois passou para a correção individual o que permitiu fazer anotações, ou seja, dar o feedback que é tão importante para motivar o aluno e orientá-lo. Porém, quando os alunos faltavam tinham de fazer os trabalhos das aulas cujas faltas decorreram!!!!!!! Parece-me uma incongruência e mesmo uma sobrecarga para os alunos e que poderia ter tido como consequência a desistência da frequência, pois os alunos explicavam os motivos das faltas e muitas delas decorriam de obrigações profissionais (a faixa etária dos 14 alunos, compreendia os 22 aos 55 anos). A justificação apresentada pela autora: tinha de haver “coerência entre o que tinha sido abordado e o que seria abordado nas unidades letivas seguintes”. Creio que, neste âmbito deveria ter dado um passo atrás, fazendo o que fazia quando, por exemplo entravam alunos novos durante o ano...
- Planeou aulas com tópicos de discussão interessantes – fator da motivação e da integração dos gostos dos alunos (fez uso da informação vertida na Ficha inicial).
- Estabeleceu uma relação de proximidade com os alunos: festejo de aniversários; comemorações de épocas festivas – partilha, inclusão.
- A avaliação fazia-se por observação direta: correção de trabalhos e de exercícios. Quando apresentavam trabalhos oralmente, ouvia-os até ao final e ia fazendo apontamentos; no fim dava-lhes feedback dos erros/falhas decorrentes do discurso oral – o feedback deve sempre ser dado em tempo certo.
- Só uma aluna foi avaliada sumativamente e com nota positiva. As duas avaliações tinham pesos iguais: contínua 50% e sumativa 50%. Dentro da sumativa o domínio da Escrita valia 30% e o domínio da Oralidade 20% (5 minutos para falar do seu país/cultura, etc.). Não são avaliados os restantes domínios e parece-me muito para a Escrita, sabendo que é sempre mais difícil a expressão escrita do que a oral. Como estavam todos no nível A1 e A2 os critérios eram iguais... comparativamente com os critérios de avaliação disponibilizados pelo Formador (da sua Escola), verifico uma maior amplitude nesta área da avaliação, sendo que a avaliação formativa ou contínua tem um papel preponderante: 60% mais 10% e apenas 30% para os testes escritos para os dois níveis, com descritores diferentes, como seria lógico.
- Criou grupos de trabalho entre os alunos, permitindo que as alunas russas fizessem uso de ferramentas de auxílio para desempenharem o mesmo trabalho das outras de origem hispânica – ou seja, promovendo a diferenciação pedagógica invisível ou implícita. Ou seja, aqui também premiou os ritmos de aprendizagem diferentes entre os alunos – heterogeneidade.
- Iniciava as aulas, promovendo, mediando a interação comunicativa:
diálogos; dramatizações; partilha de rotinas; etc... - Percebeu que estava a ser demasiadamente ambiciosa no que se refere às planificações...foi desprendendo-se à medida que foi refletindo sobre as suas práticas: deu lugar a mais espaço para a instrução e explicações e exercícios mais simples.
- Estabeleceu a ajuda entre pares – facilita bastante a inclusão e, por conseguinte a aprendizagem quando se está num nível A1 como o caso das russas. As lituanas ajudaram, porque tinham noções de russo.
- Por fim, usou uma estratégia, para ela enquanto professora, mediadora, facilitadora, integradora, através dum Questionário anónimo para aferir as suas práticas. Estes momentos de heteroavaliação são sempre importantes.
(Fim)