Discussão/ Reflexão: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA: Caso prático

Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA

Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA

por Cláudia Ribeiro -
Número de respostas: 1

Pedagogia Diferenciada

Na verdade, não possuo qualquer experiência na Lecionação de PLA e a que tive em PLNM foi já há muito tempo. Assim, considero que as estratégias utilizadas pela Professora me parecem pertinentes e adequadas, já que partiu de um questionário inicial que lhe permitiu ficar com uma visão mais abrangente do público heterogéneo com que trabalhava. Por outro lado, o teste de diagnóstico possibilitou-lhe identificar fragilidades nos diferentes domínios a serem trabalhados.

Para dar resposta a toda a heterogeneidade, a professora criou grupos flexíveis onde foi possível a exploração de atividades semelhantes de forma colaborativa e integradora, visto os alunos terem de interagir uns com os outros e a seleção dos materiais também me pareceu adequada, já que houve um cuidado por parte da professora em encontrar materiais que fossem de encontro às necessidades e interesses dos alunos. Esta abordagem diferenciada creio que foi bem conseguida.

Talvez como forma de apoiar alguns alunos que, por necessidade, tiveram de faltar, a professora pudesse apoiá-los em momentos de aulas online, um recurso digital poderosíssimo que devemos continuar a utilizar e que poderá ser uma mais-valia em alguns destes casos.

Evidentemente que nem tudo correu como o esperado, já que existem fatores externos aos momentos da aula que a professora não consegue controlar, nomeadamente a questão do absentismo. Mas não considero que seja um motivo que deva ser considerado negativo, já que por muito que se tente arranjar os melhores materiais e se façam as abordagens mais interessantes e motivadoras em sala de aula, nunca seremos capazes de controlar tudo o que envolve a vida de um aluno e, neste caso, de alunos adultos que muitas vezes possuem bagagens de vida muito complicadas.

Em resposta a 'Cláudia Ribeiro'

Re: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA

por João Paulo Pereira -
Cara Cláudia
Apesar de não ter experiência de ensino de PLA, fez uma análise correta da ação pedagógica da professora Raquel Pereira. O grande desafio era gerir a 'vincada heterogeneidade' da turma, com todas as questões associadas à volatilidade deste público em termos de assiduidade, a que se soma uma dimensão afetiva também presente (decorrente do contexto de imigração, com todos os obstáculos e pressão social que existem).
A pedagogia diferenciada parece responder, neste contexto, à heterogeneidade deste tipo de público. Identificou, nesse sentido, algumas das estratégias utilizadas neste âmbito, como a constituição de grupos flexíveis ou a criação de materiais específicos.
Depois, apresenta como estratégia que podia ser utilizada em relação aos alunos que não podem ir às aulas o ensino à distância. Pode de facto resolver em parte o problema. Embora, neste caso, se deva ter em conta que entre o público de PLA há alunos com pouca ou nenhuma literacia digital. Há que pensar na melhor forma de implementar esse tipo de recursos sem excluir ninguém.
Finalmente, faltou mobilizar alguma da bibliografia, como era solicitado.
Para complementar a sua análise, deixo-lhe a minha própria reflexão.
Enquanto professores de Português Língua de Acolhimento (PLA), devemos ter em conta as idiossincrasias de uma realidade ligada à imigração que levanta questões acrescidas, dada a situação de vulnerabilidade (afetiva, social e económica) em que muitas vezes este tipo de público se encontra. O impacto pedagógico é significativo e exige respostas específicas, idealmente articuladas com outros profissionais (Grosso, 2021). Temos de lidar com um contexto educativo marcado concretamente por: uma heterogeneidade de trajetórias de aprendizagem e de perfis sociolinguísticos; baixa assiduidade dos aprendentes (ou atraso na chegada às aulas), devido a questões laborais ou dificuldades de transporte; condições de vulnerabilidade social e afetiva (Bottura e Gattolin, 2023).
É neste contexto que temos de analisar as respostas educativas de Raquel Pereira, no âmbito do curso ministrado a imigrantes no Centro Nacional de Apoio à Integração de Migrantes (CNAIM) do Porto. A "heterogeneidade vincada", expressão utilizada pela própria, revela bem aquele que foi o grande desafio enfrentado. Perante esta realidade, a professora não teve dúvida em implementar uma pedagogia diferenciada.
Começo por assinalar o facto de ter sido preenchida uma ficha sociolinguística e ministrado um teste diagnóstico, que vieram corroborar a heterogeneidade da turma e que reforçaram a convicção da docente na necessidade de aplicação de uma pedagogia diferenciada. A docente parecia já ter esta decisão tomada antes de iniciar os trabalhos com a turma, pois inclui na ficha sociolinguística uma questão sobre os métodos preferidos de trabalho dos aprendentes e outra sobre interesses pessoais.
Quanto à utilização de estratégias que se inserem no âmbito da pedagogia diferenciada, a docente refere a constituição de grupos flexíveis, de acordo com o nível linguístico, da língua e dos ritmos de aprendizagem, a aprendizagem cooperativa ou a produção de materiais para aprendentes de línguas específicas.
Não há, no entanto, referência a instrumentos reguladores da aprendizagem, como o Plano Individual de Trabalho (PIT), que poderia apoiar de forma mais efetiva esta prática pedagógica. Refere a professora que, quando os aprendentes não apareciam durante um número significativo de aulas, lhes era pedido que resolvessem os exercícios mais importantes da unidade temática. Com um PIT, tanto os objetivos como as tarefas da unidade temática estariam claramente definidos, sabendo claramente o aprendente o que teria de fazer. Por outro lado, o PIT poderia contemplar também o estudo autónomo, outra parte essencial de diferenciação do ensino e das aprendizagens.
Quanto ao recurso ao trabalho de casa para efeitos de revisão e sistematização, assim como base para o registo das dificuldades individuais, não é garantido que tal estratégia resulte. Por um lado, sabemos da falta de tempo, por razões laborais, que os aprendentes têm para realizar as tarefas escolares fora da sala de aula. Por outro, trata-se de um público com uma assiduidade irregular.
Em termos de materiais didáticos, parece acertada a criação de materiais para aprendentes de línguas específicas e a adaptação de vários manuais. A criação de tópicos com base nos interesses dos aprendentes é outra das estratégias que se enquadra na pedagogia diferenciada e que merece ser destacada.
Finalmente, uma palavra para referir a preocupação da docente em promover o diálogo intercultural, de que é exemplo a partilha de produtos típicos do país de origem durante a aula.
Em suma, são vários os desafios do ensino e aprendizagem do PLA, assim como da implementação da pedagogia diferenciada neste contexto específico. Se consultarmos o trabalho da docente, vemos quais foram essas dificuldades, que se prendem com a gestão da heterogeneidade na sala de aula (a falta de tempo para a concretização da unidade letiva, devido à divisão em grupos; o facto de certos alunos não reagirem bem a trabalhar em grupo; a sensação de dar mais atenção aos aprendentes que chegam de novo do que aos aprendentes fixos; etc.).