Discussão/ Reflexão: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA: Caso prático

Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA - caso prático

Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA - caso prático

por Cristina Sousa -
Número de respostas: 1

Penso que as estratégias adotadas pela professora Raquel Pereira foram adequadas. Revelou bastante empenho e interesse na superação das dificuldades dos formandos relativamente à barreira linguística e cultural. 

A professora começou por fazer a caracterização do público-alvo . Aplicou a ficha de identidade recolhendo informações necessárias para produzir e aplicar um teste diagnóstico. Aplicação deste teste foi fundamental para que a professora pudesse perceber as dificuldades de cada formando, posicionando-os no nível adequado e adotar as melhores estratégias, com a finalidade de ir ao encontro das necessidades de cada um.

Das estratégias utilizadas, penso que a que resultou melhor foi a partilha de produtos típicos do país de origem dos alunos ,assim como a criação de tópicos de discussão com base em aspetos culturais e dados dos próprios alunos. São estratégias que promovem a partilha, a interajuda, o gosto pela aprendizagem, pela a aquisição de conhecimentos.

Também gostei da estratégia da Constituição de grupos flexíveis tendo em conta a diversidade das nacionalidades. Contudo, não sei se esta estratégia terá resultado, uma vez que a professora refere que, no funcionamento das aulas, " o grupo não se mostrou coeso e uno", assim como a referência a irregularidade da assiduidade. Penso que estará relacionado com as idades e ou o facto de serem trabalhadores.

A professora em questão poderia ter utilizado alguns recursos digitais , como aqueles que nos foram dados a conhecer na sessão. O uso de Plataformas digitais poderia, por exemplo, servir para realizar aulas online, sendo uma solução para os que não pudessem ir às aulas presenciais.  O recurso a canais de Youtube, poderia servir para a revisão e sistematização de alguns conteúdos, tornando os trabalhos de casa mais apelativos e dinâmicos.

Em resposta a 'Cristina Sousa'

Re: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA - caso prático

por João Paulo Pereira -
Cara Cristina Sousa
Fez uma análise globalmente positiva - e correta - da ação pedagógica da professora Raquel Pereira. O grande desafio era gerir a 'vincada heterogeneidade' da turma, com todas as questões associadas à volatilidade deste público em termos de assiduidade, a que se soma uma dimensão afetiva também presente (decorrente do contexto de imigração, com todos os obstáculos e pressão social que existem).
A pedagogia diferenciada parece responder, neste contexto, à heterogeneidade deste tipo de público. Identificou, nesse sentido, algumas das estratégias utilizadas neste âmbito, de que destaco a constituição de grupos flexíveis. Questiona a eficácia desta estratégia, tendo em conta a observação da professora de que o grupo não se revelou "coeso e "uno". Este é um dos desafios deste tipo de abordagem. Nem sempre os alunos reagem bem ao trabalho de grupo. É necessário que se construa uma relação de confiança entre os vários elementos que o constituem. Acima de tudo, é necessário não impor nada, mas antes negociar com os alunos as várias tarefas, permitindo que cada um escolha aquela em que se sente mais confortável. E, claro, que percebam a finalidade do trabalho.
Depois, apresenta como outras estratégias o uso de plataformas digitais e de canais do Youtube. O uso de ambientes e de recursos digitais pode funcionar para promover a autonomia da aprendizagem e para dar a oportunidade a quem falta de ter acesso aos materiais das aulas. Embora, neste caso, se deva ter em conta que entre o público de PLA há alunos com pouca ou nenhuma literacia digital. Há que pensar na melhor forma de implementar esse tipo de recursos sem excluir ninguém.
Faltou mobilizar alguma da bibliografia, como era solicitado.
Para complementar a sua análise, deixo-lhe a minha própria reflexão.
Enquanto professores de Português Língua de Acolhimento (PLA), devemos ter em conta as idiossincrasias de uma realidade ligada à imigração que levanta questões acrescidas, dada a situação de vulnerabilidade (afetiva, social e económica) em que muitas vezes este tipo de público se encontra. O impacto pedagógico é significativo e exige respostas específicas, idealmente articuladas com outros profissionais (Grosso, 2021). Temos de lidar com um contexto educativo marcado concretamente por: uma heterogeneidade de trajetórias de aprendizagem e de perfis sociolinguísticos; baixa assiduidade dos aprendentes (ou atraso na chegada às aulas), devido a questões laborais ou dificuldades de transporte; condições de vulnerabilidade social e afetiva (Bottura e Gattolin, 2023).
É neste contexto que temos de analisar as respostas educativas de Raquel Pereira, no âmbito do curso ministrado a imigrantes no Centro Nacional de Apoio à Integração de Migrantes (CNAIM) do Porto. A "heterogeneidade vincada", expressão utilizada pela própria, revela bem aquele que foi o grande desafio enfrentado. Perante esta realidade, a professora não teve dúvida em implementar uma pedagogia diferenciada.
Começo por assinalar o facto de ter sido preenchida uma ficha sociolinguística e ministrado um teste diagnóstico, que vieram corroborar a heterogeneidade da turma e que reforçaram a convicção da docente na necessidade de aplicação de uma pedagogia diferenciada. A docente parecia já ter esta decisão tomada antes de iniciar os trabalhos com a turma, pois inclui na ficha sociolinguística uma questão sobre os métodos preferidos de trabalho dos aprendentes e outra sobre interesses pessoais.
Quanto à utilização de estratégias que se inserem no âmbito da pedagogia diferenciada, a docente refere a constituição de grupos flexíveis, de acordo com o nível linguístico, da língua e dos ritmos de aprendizagem, a aprendizagem cooperativa ou a produção de materiais para aprendentes de línguas específicas.
Não há, no entanto, referência a instrumentos reguladores da aprendizagem, como o Plano Individual de Trabalho (PIT), que poderia apoiar de forma mais efetiva esta prática pedagógica. Refere a professora que, quando os aprendentes não apareciam durante um número significativo de aulas, lhes era pedido que resolvessem os exercícios mais importantes da unidade temática. Com um PIT, tanto os objetivos como as tarefas da unidade temática estariam claramente definidos, sabendo claramente o aprendente o que teria de fazer. Por outro lado, o PIT poderia contemplar também o estudo autónomo, outra parte essencial de diferenciação do ensino e das aprendizagens.
Quanto ao recurso ao trabalho de casa para efeitos de revisão e sistematização, assim como base para o registo das dificuldades individuais, não é garantido que tal estratégia resulte. Por um lado, sabemos da falta de tempo, por razões laborais, que os aprendentes têm para realizar as tarefas escolares fora da sala de aula. Por outro, trata-se de um público com uma assiduidade irregular.
Em termos de materiais didáticos, parece acertada a criação de materiais para aprendentes de línguas específicas e a adaptação de vários manuais. A criação de tópicos com base nos interesses dos aprendentes é outra das estratégias que se enquadra na pedagogia diferenciada e que merece ser destacada.
Finalmente, uma palavra para referir a preocupação da docente em promover o diálogo intercultural, de que é exemplo a partilha de produtos típicos do país de origem durante a aula.
Em suma, são vários os desafios do ensino e aprendizagem do PLA, assim como da implementação da pedagogia diferenciada neste contexto específico. Se consultarmos o trabalho da docente, vemos quais foram essas dificuldades, que se prendem com a gestão da heterogeneidade na sala de aula (a falta de tempo para a concretização da unidade letiva, devido à divisão em grupos; o facto de certos alunos não reagirem bem a trabalhar em grupo; a sensação de dar mais atenção aos aprendentes que chegam de novo do que aos aprendentes fixos; etc.).