Bom dia!
Inicio esta reflexão dando a indicação de que, realmente, nunca trabalhei como professora de grupos exclusivamente de PLNM ou de PLA.
É verdade que, muitas das metodologias, estratégias e até recursos podem permitir um aproveitamento transversal, pelo que, como professora fundamentalmente de PLE, vou dar umas pinceladas da minha experiência neste sentido, apoiadas na reflexão que fiz após a leitura atenta do Plano Estratégico para a Aprendizagem de Português como Língua Estrangeira (cuja partilha aproveito para agradecer).
Este documento, antes de mais, penso que surgiu da necessidade de dar resposta, de modo formal, ao progressivo aumento da presença de cidadãos de outras nacionalidades e, consequentemente, línguas, no espaço territorial português e à obrigatoriedade de os integrar e apoiar na aquisição da língua portuguesa durante a sua estadia em Portugal; ainda, também me parece que pretende definir de forma consistente e real passos a dar na concretização dessa mesma integração, tanto em relação aos aprendentes como aos docentes que lecionam PLE, PLA e PLNM.
Ou seja, o principal objetivo deste Plano é apresentar um projeto de ação, a curto/médio prazo, suficientemente abrangente e flexível para abarcar todos os tipos de contextos e situações de origem dos aprendentes que vão ser acolhidos nas aulas de PLE e, ainda, inevitavelmente, de PNLM e de PLA.
Este Plano dá-nos também conta da existência de várias iniciativas de aprendizagem não formal que já se verificam e que devem ser valorizadas como formas veiculares de transmissão e aquisição da língua.
Para dar cumprimento a todos estes propósitos, definiram 5 eixos que plasmam o objetivo supramencionado.
Vejamos:
Eixo 1 - Incentivar o domínio da língua portuguesa
Veja-se que o verbo “incentivar” integra não só a passagem de informação / divulgação das iniciativas que existem mas também a parte motivacional, que convidará e instigará os aprendentes a participar nessas iniciativas. Este eixo tem a preocupação de chegar a todo o tipo de público de distintas proveniências socioeconómicas, culturais e linguísticas; ainda, apresenta uma articulação com entidades não educativas que podem prestar outro tipo de apoios aos recém-chegados a Portugal (apoios sociais, protocolos…).
Eixo 2 - Reforçar os recursos disponíveis para o ensino-aprendizagem da língua portuguesa
Este eixo orienta, inicialmente, o papel do docente de PLA, sendo que considera fundamental ajustar as competências de todos os docentes para poderem dar uma resposta favorável aos grupos de alunos que vão receber neste contexto de ensino. Esta situação pode ser alcançada através de formação contínua ou mesmo da criação de novos cursos de formação que ajudem a preparar os docentes para estas “novas” realidades.
Por outro lado, também se destaca o apoio aos Migrantes, como forma de os sensibilizar de forma mais significativa para a melhoria das suas competências linguísticas e inclusivamente culturais. Este apoio e iniciativas passam por distintos meios veiculares de informação, muitos deles que se apoiam em ferramentas digitais, tão apetecíveis e apelativas hoje em dia, independentemente da idade dos aprendentes.
Eixo 3 - Reforçar a oferta formativa
É evidente que este eixo, ao integrar ações financiadas, não depende somente de mudanças estratégicas e de organização das escolas; aqui, o apoio do Estado português é fundamental e algumas mudanças / protocolos políticos também.
Por outro lado, este eixo também refere a criação de mais cursos/formações, pelas diferentes entidades competentes, o que se apresenta como a forma mais rápida e imediata de ajudar os docentes já no ativo a preparem-se para o trabalho prático com estes alunos de características tão peculiares.
Ainda, percebemos, através da análise deste ponto, que realmente a integração deste público não se faz somente nas aulas de português, mas também em distintas atividades de âmbito cultura, desportivo, etc, onde os alunos podem aprender de forma imersiva.
Eixo 4 - Promover o reconhecimento e a certificação das competências em língua portuguesa
Parece-me fundamental que haja um processo de certificação das aprendizagens realizadas, dado que é um documento que os seus portadores podem usar para comprovar o seu domínio de língua não só em Portugal, mas também noutros países, o que representa uma enorme vantagem para, por exemplo, procurar trabalho ou até realizar distintas formações superiores, se for este o seu interesse.
Para atingir este fim, o Plano prevê a criação de protocolos com as entidades formadoras, o desenvolvimento de ferramentas digitais de diagnóstico de conhecimento da língua e de avaliação / certificação.
Um passo posterior à certificação poderá dar-se, então, através do reforço da periodicidade da realização da PaN –Prova de Acesso à Nacionalidade, o que constitui também uma enorme vantagem e confere, a estes cidadãos, um real sentido de pertença a uma Comunidade.
Eixo 5 –Incrementar a disponibilização e a utilização de ferramentas digitais
Este eixo apresenta a previsão da criação de mais ferramentas / plataformas não só de apropriação da língua (aprendizagem direta) mas também de posta em prática (aplicação de conhecimentos). Ou seja, incentiva a promoção do ensino da língua portuguesa com recurso a ferramentas digitais, dentro da sala de aula mas também, de forma autónoma, fora da sala de aula.
Também é de extrema importância o reforço da oferta formativa a distância e, acrescento eu, de ajustar o valor da frequência da mesma, especialmente nos casos mais delicados em termos económicos. Este eixo refere ainda a criação de um prémio de inovação no ensino-aprendizagem da língua portuguesa através de ferramentas digitais, o que também pode ser considerado um ponto de motivação para os próprios docentes, para se atualizarem e formarem nesta área.