Discussão/ Reflexão: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA: Caso prático

Reflexão PLA: Caso prático

Reflexão PLA: Caso prático

por Anabela Mourão Ferreira -
Número de respostas: 1

Na minha opinião, a professora Raquel adequou as estratégias de acordo com a heterogeneidade da turma. Usou estratégias variadas e teve em conta as diferentes necessidades dos alunos. Além disso, promoveu a aprendizagem ativa e colaborativa, o que pode ajudar a melhorar os resultados de aprendizagem de todos os alunos.

Começou por aplicar a ficha de identificação, como forma de conhecer os seus alunos, realizou o diagnóstico inicial para conhecer as suas necessidades de aprendizagem e saber qual o nível de proficiência (os alunos tinham diferentes ritmos de aprendizagem, diferenças relativamente à proximidade da língua e dos níveis de língua). Este foi o ponto de partida para que o ensino estivesse adequado ao perfil de cada aluno.

Quanto às estratégias mencionadas, a professora adotou as seguintes:

  • Constituição de grupos flexíveis: permite que os alunos trabalhem em diferentes níveis de dificuldade, de acordo com suas capacidades e conhecimentos. Nesta perspetiva, os grupos possibilitam que a professora oriente diferentes tipos de atividades e que realize atividades específicas de acordo com o perfil dos alunos, possibilitando também apoiar os alunos que necessitem de mais atenção. Além disso, facilita a interação entre os alunos.
  • Trabalhos de casa: leva a que os alunos revejam o que aprenderam nas aulas, pratiquem a língua portuguesa em casa e é uma forma de atenuar a falta de assiduidade. No meu entender, se forem trabalhos equilibrados em termos de quantidade e se forem ao encontro dos interesses dos alunos, podem ser muito positivos na aprendizagem. Além disso, permite que os alunos menos assíduos possam realizar as tarefas sem prejudicar os que são assíduos.
  • Criação de tópicos de discussão com base em aspectos culturais e partilha de produtos típicos dos países de origem dos alunos: Raquel Pereira aproveitou a heterogeneidade do grupo como uma oportunidade de aprendizagem para todos os alunos, tirando proveito da mesma.
  • Adaptações de manuais: a estratégia permite que a professora utilize materiais didáticos mais adequados ao nível de proficiência dos alunos, o que pode ajudar os alunos a sentirem-se mais motivados e a aprender de forma mais eficaz.
  • Produção de materiais: possibilita que a professora crie materiais didáticos que sejam específicos para as necessidades dos seus alunos. Isso pode auxiliar o processo de ensino e aprendizagem e os alunos a sentirem se mais envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.

Com base na bibliografia relevante para o ensino de PLA, seleccionei duas estratégias adicionais:

  • Inserção de atividades lúdicas – e.g. “Bolsa de Perguntas” – Bottura (2019);
  • O ensino por tarefas, organizadas de forma modular, com princípio, meio e fim a cada aula, de forma a permitir que os aprendentes tenham um certo progresso, mesmo sem frequentarem regularmente as aulas.
  • Sugerir e fazer tarefas com temáticas que motivem os diferentes públicos e os ajudem a melhorar a sua comunicação nos diferentes domínios em que têm de atuar.  

Artigo: Entre o lúdico e o acolhimento

 Português como Língua de Acolhimento: Práticas e Perspectivas (VIDE artigo Maria José Grosso)Ficheiro

Em resposta a 'Anabela Mourão Ferreira'

Re: Reflexão PLA: Caso prático

por João Paulo Pereira -
Cara Anabela
Fez uma análise geral da ação pedagógica da docente em apreço. Referiu alguns princípios da pedagogia diferenciada adotados, como a constituição de grupos flexíveis. Neste aspeto, penso que faltaram os instrumentos reguladores de aprendizagem, como o plano individual de trabalho, essenciais na pedagogia diferenciada.
Destaco também na sua resposta a mobilização da bibliografia para sugerir outras estratégias.
Deixo-lhe a minha visão deste caso, para complementar a sua resposta.
Enquanto professores de Português Língua de Acolhimento (PLA), devemos ter em conta as idiossincrasias de uma realidade ligada à imigração que levanta questões acrescidas, dada a situação de vulnerabilidade (afetiva, social e económica) em que muitas vezes este tipo de público se encontra. O impacto pedagógico é significativo e exige respostas específicas, idealmente articuladas com outros profissionais (Grosso, 2021). Temos de lidar com um contexto educativo marcado concretamente por: uma heterogeneidade de trajetórias de aprendizagem e de perfis sociolinguísticos; baixa assiduidade dos aprendentes (ou atraso na chegada às aulas), devido a questões laborais ou dificuldades de transporte; condições de vulnerabilidade social e afetiva (Bottura e Gattolin, 2023).
É neste contexto que temos de analisar as respostas educativas de Raquel Pereira, no âmbito do curso ministrado a imigrantes no Centro Nacional de Apoio à Integração de Migrantes (CNAIM) do Porto. A "heterogeneidade vincada", expressão utilizada pela própria, revela bem aquele que foi o grande desafio enfrentado. Perante esta realidade, a professora não teve dúvida em implementar uma pedagogia diferenciada.
Começo por assinalar o facto de ter sido preenchida uma ficha sociolinguística e ministrado um teste diagnóstico, que vieram corroborar a heterogeneidade da turma e que reforçaram a convicção da docente na necessidade de aplicação de uma pedagogia diferenciada. A docente parecia já ter esta decisão tomada antes de iniciar os trabalhos com a turma, pois inclui na ficha sociolinguística uma questão sobre os métodos preferidos de trabalho dos aprendentes e outra sobre interesses pessoais.
Quanto à utilização de estratégias que se inserem no âmbito da pedagogia diferenciada, a docente refere a constituição de grupos flexíveis, de acordo com o nível linguístico, da língua e dos ritmos de aprendizagem, a aprendizagem cooperativa ou a produção de materiais para aprendentes de línguas específicas.
Não há, no entanto, referência a instrumentos reguladores da aprendizagem, como o Plano Individual de Trabalho (PIT), que poderia apoiar de forma mais efetiva esta prática pedagógica. Refere a professora que, quando os aprendentes não apareciam durante um número significativo de aulas, lhes era pedido que resolvessem os exercícios mais importantes da unidade temática. Com um PIT, tanto os objetivos como as tarefas da unidade temática estariam claramente definidos, sabendo claramente o aprendente o que teria de fazer. Por outro lado, o PIT poderia contemplar também o estudo autónomo, outra parte essencial de diferenciação do ensino e das aprendizagens.
Quanto ao recurso ao trabalho de casa para efeitos de revisão e sistematização, assim como base para o registo das dificuldades individuais, não é garantido que tal estratégia resulte. Por um lado, sabemos da falta de tempo, por razões laborais, que os aprendentes têm para realizar as tarefas escolares fora da sala de aula. Por outro, trata-se de um público com uma assiduidade irregular.
Em termos de materiais didáticos, parece acertada a criação de materiais para aprendentes de línguas específicas e a adaptação de vários manuais. A criação de tópicos com base nos interesses dos aprendentes é outra das estratégias que se enquadra na pedagogia diferenciada e que merece ser destacada.
Finalmente, uma palavra para referir a preocupação da docente em promover o diálogo intercultural, de que é exemplo a partilha de produtos típicos do país de origem durante a aula.
Em suma, são vários os desafios do ensino e aprendizagem do PLA, assim como da implementação da pedagogia diferenciada neste contexto específico. Se consultarmos o trabalho da docente, vemos quais foram essas dificuldades, que se prendem com a gestão da heterogeneidade na sala de aula (a falta de tempo para a concretização da unidade letiva, devido à divisão em grupos; o facto de certos alunos não reagirem bem a trabalhar em grupo; a sensação de dar mais atenção aos aprendentes que chegam de novo do que aos aprendentes fixos; etc.).