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História da minha literacia

História da minha literacia

by Sandra Costa -
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Se me perguntarem como aprendi a ler, a resposta é simples: não faço a mínima ideia. Não registo nenhum momento na minha memória sobre essa aprendizagem. O que me lembro, isso sim, é de estar a olhar para uma folha de papel com a famigerada letra g manuscrita, que eu devia recortar — uma daquelas atividades educativas que misturam artes manuais com tortura psicológica. Aquela letra parecia algo confuso, um arabesco esquisito que nada me dizia.  Foi por pouco que não ganhei um ódio de estimação à dita cuja. Mas lá descobri a tempo que era com g que se escrevia gato, e acabei por lhe perdoar o trauma que me causou e a quase tareia que ia levando, que a «burrice» na altura não era muito apreciada e tratava-se de forma muito severa.

Durante algum tempo, para mim, as letras, por si só, eram um caos de rabiscos enrolados. Já os livros, com as palavras alinhadinhas e os textos direitinhos, exerciam em mim um outro fascínio.

Quando, finalmente, dei por mim a ler, a minha preferência ia para textos que não começassem com “Era uma vez...” e que não tivessem final feliz.

Mais tarde, quando já lia e interpretava com desenvoltura (e orgulho, confesso), fui posta novamente à prova com uma pergunta que a professora tinha a certeza que eu saberia responder: que joia tinha perdido o viajante árabe? Nunca me perdoei por não ter chegado logo à resposta e a professora também não. Era um dia. No meu caso, um dia para esquecer.

Para além de adorar ler alto, repetir estrofes só porque soavam bem e eram melódicas, sentia também verdadeiro fascínio pelas ilustrações.

Resumindo, a minha relação com a leitura começou um bocado ao acaso, com alguns traumas à mistura. O que posso dizer é que, desde que aprendi a ler, sempre me conheci a gostar de o fazer, embora não saiba ao certo como é que isso aconteceu. Só sei que é uma parte boa e fundamental da minha vida e fonte de prazer e conhecimento.