Discussão/ Reflexão: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA: Caso prático

Discussão/ Reflexão: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA: Caso prático

Discussão/ Reflexão: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA: Caso prático

by Elisabete Pires -
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  De acordo com a caracterização do grupo-alvo, penso que as atividades propostas foram ao encontro das necessidades dos discentes tendo em conta o nível de proficiência a atingir. Considero que as estratégias promoveram uma aprendizagem positiva da língua apesar da heterogeneidade e da presença de vários níveis de proficiência na sala de aula bem como da reduzida assiduidade de alguns alunos.

  Na minha opinião, as estratégias que melhor resultam são aquelas que cruzam o programa estabelecido pela escola com as expetativas, as áreas de interesse a motivação dos discentes e os métodos de trabalho assinalados na FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO. Penso que a idade e o perfil do público-alvo (cf. FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO) são dois outros aspetos que devem ser tidos em conta aquando do fornecimento de materiais de trabalho ou de estudo.

  Penso que incluiria atividades de trabalho projeto relacionadas com o programa definido pela escola. Estes trabalhos projetos poderiam estar relacionados com as competências intercultural e pragmática, na medida em que poderiam relacionar os conteúdos a estudar com as experiências e expetativas dos discentes. Estes projetos também poderiam desenvolver a competência da mediação.

Outro tipo de atividades são as atividades lúdicas (simulações, recriações, jogos de aprendizagem,...) que promovem a coesão do grupo e a interação social para além de desenvolverem as competências da produção, compreensão e interação orais e/ou escritas.

Atividades de partilha de sabores, de canções, de danças, de histórias, de tradições podem facilitar a integração e promover a língua-alvo.

Passeios e visitas de estudo (ida ao cinema, a um espetáculo, a um museu, ....) são outro tipo de atividades que costumam resultar. Estas atividades poderiam ser acompanhadas por uma entrevista, um questionário ou outra estratégia relacionada com o propósito da atividade, cruzando-as com o programa.

No âmbito das competências escritas, proporia atividades de autocorreção e de autorreflexão sobre as dificuldades apresentadas nos textos escritos. O jornal de turma ou uma secção no jornal da escola costuma funcionar como elemento motivador.

Para o desenvolvimento da competência audiovisual, usaria documentos audiovisuais autênticos relacionados com o programa proposto e indo ao encontro das expetativas e interesses dos discentes para introduzir as temáticas e fornecer uma base de trabalho para as produções pedidas nos momentos avaliativos (orais, escritas ou audiovisuais), por exemplo.

A maioria destas propostas podem ser utilizadas como estratégias para o desenvolvimento da proficiência linguística enquanto elementos para uma avaliação formativa  e contínua ou como elementos de verificação da aquisição dos conteúdos ensinados num âmbito da avaliação sumativa.

 

In reply to Elisabete Pires

Re: Discussão/ Reflexão: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA: Caso prático

by João Paulo Pereira -
Cara Elisabete
Faz uma avaliação globalmente positiva da ação pedagógica da docente Raquel Tavares. O desafio que esta tinha pela frente (assim como todos os professores que têm alunos de vários níveis de proficiência linguística, nacionalidades, línguas maternas, idades, com diferentes estilos de aprendizagem, habilitações literárias, etc,. ), era fazer a gestão da "vincada heterogeneidade" da turma. Por isso a docente decidiu aplicar a chamada pedagogia diferenciada. Podia ter ido mais a fundo na análise das estratégias que foram utilizadas neste âmbito. Assim como em relação a outras, como a questão da aplicação do trabalho de casa para os alunos faltosos. E mobilizar alguma da bibliografia sugerida, como era solicitado.
Destaco a parte em que aponta outras estratégias e atividades, que me parecem acertadas (mesmo que não seja fácil levar o público PLA a atividades fora da escola, em visitas de estudo, dado as aulas serem dadas normalmente em horário pós-laboral e alguns alunos terem constrangimentos laborais, que os impede muitas vezes de irem às aulas). Sobretudo, parecem-me muito pertinentes as atividades que propõe para desenvolver as competências da produção escrita e audiovisual. Em relação a esta última, concordo completamente com a utilização de material audiovisual como base para a avaliação, algo que não se costuma fazer.
Para complementar a sua resposta, deixo a minha própria reflexão.
Enquanto professores de Português Língua de Acolhimento (PLA), devemos ter em conta as idiossincrasias de uma realidade ligada à imigração que levanta questões acrescidas, dada a situação de vulnerabilidade (afetiva, social e económica) em que muitas vezes este tipo de público se encontra. O impacto pedagógico é significativo e exige respostas específicas, idealmente articuladas com outros profissionais (Grosso, 2021). Temos de lidar com um contexto educativo marcado concretamente por: uma heterogeneidade de trajetórias de aprendizagem e de perfis sociolinguísticos; baixa assiduidade dos aprendentes (ou atraso na chegada às aulas), devido a questões laborais ou dificuldades de transporte; condições de vulnerabilidade social e afetiva (Bottura e Gattolin, 2023).
É neste contexto que temos de analisar as respostas educativas de Raquel Pereira, no âmbito do curso ministrado a imigrantes no Centro Nacional de Apoio à Integração de Migrantes (CNAIM) do Porto. A "heterogeneidade vincada", expressão utilizada pela própria, revela bem aquele que foi o grande desafio enfrentado. Perante esta realidade, a professora não teve dúvida em implementar uma pedagogia diferenciada.
Começo por assinalar o facto de ter sido preenchida uma ficha sociolinguística e ministrado um teste diagnóstico, que vieram corroborar a heterogeneidade da turma e que reforçaram a convicção da docente na necessidade de aplicação de uma pedagogia diferenciada. A docente parecia já ter esta decisão tomada antes de iniciar os trabalhos com a turma, pois inclui na ficha sociolinguística uma questão sobre os métodos preferidos de trabalho dos aprendentes e outra sobre interesses pessoais.
Quanto à utilização de estratégias que se inserem no âmbito da pedagogia diferenciada, a docente refere a constituição de grupos flexíveis, de acordo com o nível linguístico, da língua e dos ritmos de aprendizagem, a aprendizagem cooperativa ou a produção de materiais para aprendentes de línguas específicas.
Não há, no entanto, referência a instrumentos reguladores da aprendizagem, como o Plano Individual de Trabalho (PIT), que poderia apoiar de forma mais efetiva esta prática pedagógica. Refere a professora que, quando os aprendentes não apareciam durante um número significativo de aulas, lhes era pedido que resolvessem os exercícios mais importantes da unidade temática. Com um PIT, tanto os objetivos como as tarefas da unidade temática estariam claramente definidos, sabendo claramente o aprendente o que teria de fazer. Por outro lado, o PIT poderia contemplar também o estudo autónomo, outra parte essencial de diferenciação do ensino e das aprendizagens.
Quanto ao recurso ao trabalho de casa para efeitos de revisão e sistematização, assim como base para o registo das dificuldades individuais, não é garantido que tal estratégia resulte. Por um lado, sabemos da falta de tempo, por razões laborais, que os aprendentes têm para realizar as tarefas escolares fora da sala de aula. Por outro, trata-se de um público com uma assiduidade irregular.
Em termos de materiais didáticos, parece acertada a criação de materiais para aprendentes de línguas específicas e a adaptação de vários manuais. A criação de tópicos com base nos interesses dos aprendentes é outra das estratégias que se enquadra na pedagogia diferenciada e que merece ser destacada.
Finalmente, uma palavra para referir a preocupação da docente em promover o diálogo intercultural, de que é exemplo a partilha de produtos típicos do país de origem durante a aula.
Em suma, são vários os desafios do ensino e aprendizagem do PLA, assim como da implementação da pedagogia diferenciada neste contexto específico. Se consultarmos o trabalho da docente, vemos quais foram essas dificuldades, que se prendem com a gestão da heterogeneidade na sala de aula (a falta de tempo para a concretização da unidade letiva, devido à divisão em grupos; o facto de certos alunos não reagirem bem a trabalhar em grupo; a sensação de dar mais atenção aos aprendentes que chegam de novo do que aos aprendentes fixos; etc.).