Ainda que não tenha nenhuma experiência na lecionação de aulas de PLA, mas sendo professora de Português e Francês, reconheço que se trata de uma área muito específica dentro do estudo de línguas estrangeiras e não pode ser uma simples adaptação do PLE. De facto, os docentes de PLA confrontam-se com um desafio que vai para além de ensinar uma língua, já que, simultaneamente, também estão a fazer um trabalho de acolhimento e integração de um público com as mais diversas trajetórias de vida, muitas vezes marcadas pela vulnerabilidade afetiva, social e económica, e proveniente das mais variadas culturas. Estas idiossincrasias têm obrigatoriamente implicações nas opções pedagógicas de quem ensina PLA.
Assim, à luz deste contexto, as estratégias delineadas pela professora Raquel Pereira, globalmente, são adequadas.
Face a uma “vincada heterogeneidade”, a docente optou pela diferenciação pedagógica, como a própria refere, na tentativa de promover uma resposta educativa adequada às necessidades do grupo de aprendentes. Os dados recolhidos através do preenchimento da ficha sociolinguística e do teste diagnóstico confirmaram essa heterogeneidade do grupo e consequente necessidade da referida pedagogia diferenciada, já anunciada no tópico da ficha que pretendia conhecer as preferências dos alunos quanto ao “método de trabalho em sala de aula”.
Constituiu grupos flexíveis de acordo com o nível linguístico, a proximidade da língua e ritmos de aprendizagem, favorecendo a aprendizagem cooperativa, e adaptou materiais pedagógicos existentes, nomeadamente para alunos de LM específicas, o que me parece uma boa opção.
A estratégia do trabalho de casa para efeitos de revisão, sistematização e registo das dificuldades individuais, na minha perspetiva, pode não ser a mais eficaz, tendo em conta a frequente falta de tempo de muitos destes alunos para dedicar ao estudo autónomo e a sua falta de assiduidade. No entanto, depende do tipo de trabalho solicitado. Tarefas curtas e/ou em suporte digital, com recurso à gamificação talvez sejam as mais adequadas, estas, porém, também exigem o recurso a tecnologias adequadas que estes alunos nem sempre possuem.
Penso que o recurso a estratégias mais lúdicas como jogos, músicas ou técnicas de roleplaying será mais motivador para os aprendentes e poderá até ser um fator para melhorarem a sua assiduidade.
A criação de tópicos de discussão para despertar interesse ou motivar os alunos, com bases em aspetos culturais e dados dos próprios alunos também vai ao encontro da pedagogia diferenciada e é uma estratégia que permite desbloquear a comunicação oral, a partilha de experiências e a criação de um ambiente afetivo e de respeito pelo outro, propiciador de aprendizagens significativas.
A docente manifestou também preocupação com o acolhimento, a integração e a promoção do diálogo intercultural, ao incluir nas suas estratégias a partilha de produtos típicos do país de origem dos alunos com a turma, proporcionando mais um momento de aprendizagem afetiva.
Julgo que as duas últimas estratégias terão sido as que resultaram melhor.
Por fim, à exceção do teste diagnóstico, não se encontra nenhuma outra referência à avaliação e aos instrumentos reguladores da aprendizagem. Considero que a avaliação formativa contínua e o feedback frequente dado aos alunos assumem uma importância enorme para que professora e alunos percebam o que podem melhorar no processo de ensino e aprendizagem e, deste modo, as aprendizagens possam ser de qualidade e os resultados obtidos na avaliação sumativa sejam positivos.
Concluindo, a escolha do método e das estratégias para lidar com a heterogeneidade nas aulas de PLA é um desafio constante e a professora Raquel procurou responder-lhe da maneira que considerou ser a mais adequada, atendendo às várias dificuldades e constrangimentos com que teve de lidar, e, de um modo geral, penso que adotou estratégias eficazes.