Discussão/ Reflexão: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA: Caso prático

Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA

Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA

por Sílvia Santos -
Número de respostas: 4

   Nas aulas de Português Língua de Acolhimento encontraremos sempre uma realidade de alunos\formandos com tantas semelhanças e com tantas diferenças entre si, ora grupos que se aproximam, ora grupos que se afastam. As estratégias que teremos que desenvolver, serão sempre diferentes de turma para turma, porque teremos que nos ajustar ao público-alvo que temos à nossa frente ansiosos por aprender.

  No caso prático da Professora Raquel Pereira considero que as estratégias que ela utilizou foram boas e nomeadamente eficazes.

  A caracterização do grupo com o preenchimento da ficha de identificação e com a realização de um teste diagnóstico, a professora foi capaz de reunir muitos elementos que lhe permitiu pensar e planear as aulas no futuro, como seria de esperar. Também já o fazemos com os nosso grupos de alunos portugueses.

   A adaptação\utilização de manuais de acordo com os temas a trabalhar, bem como a produção de materiais ajustados aos formandos são duas boas estratégias, porque a heterogeneidade do grupo assim nos obriga. Os temas trabalhados em contexto de PLA são diversos, mas são um ponto comum a todos os formandos, depois todos os outros materiais elaborados acabam por ir de encontro aos diversos grupos com ritmos de aprendizagem diferentes, ou seja, existem sempre aqueles que rapidamente conseguem e depois aqueles que demoram um pouco mais e até precisam de uma ajuda mais individualizada na resolução dos exercícios. O facto é que, desta forma, os formandos terão materiais que para alguns poderão ser consolidação, mas para outros serão um importante reforço. O trabalho de casa, algo simples e prático, é uma boa estratégia, porque às vezes o espaço temporal entre aulas implica um trabalho de consolidação que os formandos podem, e até gostam, realizar em casa. 

   Outra estratégia que acho que resultou muito bem no caso da professora e acho que resulta sempre muito bem é a partilha cultural e tendo como ponto de partida a realização de muitas atividades que levem a essa mesma partilha. Quanto mais interesse pela diversidade cultural dentro do grupo, mais os formandos parecem ter entusiasmo em "dar" para também "receber".

  

 

Em resposta a 'Sílvia Santos'

Re: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA

por João Paulo Pereira -
Cara Sílvia
Fez uma análise globalmente positiva - e correta - da ação pedagógica da professora Raquel Pereira, refletindo sobre a necessidade de ir ao encontro das necessidades comunicativas dos aprendentes (embora no caso do PLA, como vimos, as dificuldades vão para além das questões linguísticas). O grande desafio era gerir a 'vincada heterogeneidade' da turma, com todas as questões associadas à volatilidade deste público em termos de assiduidade, a que se soma uma dimensão afetiva também presente (decorrente do contexto de imigração, com todos os obstáculos e pressão social que existem).
A pedagogia diferenciada parece responder, neste contexto, à heterogeneidade deste tipo de público. Identificou, nesse sentido, algumas das estratégias utilizadas neste âmbito, a criação de materiais para públicos específicos. Podia ter ido mais longe na análise, apresentando outras estratégias utilizadas pela docente neste âmbito (e comentando-as).
Em relação aos trabalhos de casa, tenho algumas dúvidas sobre a sua eficácia, tendo em conta a pouca disponibilidade de tempo deste tipo de público.
Finalmente, faltou mobilizar alguma da bibliografia, como era solicitado.
Para complementar a sua análise, deixo-lhe a minha própria reflexão.
Enquanto professores de Português Língua de Acolhimento (PLA), devemos ter em conta as idiossincrasias de uma realidade ligada à imigração que levanta questões acrescidas, dada a situação de vulnerabilidade (afetiva, social e económica) em que muitas vezes este tipo de público se encontra. O impacto pedagógico é significativo e exige respostas específicas, idealmente articuladas com outros profissionais (Grosso, 2021). Temos de lidar com um contexto educativo marcado concretamente por: uma heterogeneidade de trajetórias de aprendizagem e de perfis sociolinguísticos; baixa assiduidade dos aprendentes (ou atraso na chegada às aulas), devido a questões laborais ou dificuldades de transporte; condições de vulnerabilidade social e afetiva (Bottura e Gattolin, 2023).
É neste contexto que temos de analisar as respostas educativas de Raquel Pereira, no âmbito do curso ministrado a imigrantes no Centro Nacional de Apoio à Integração de Migrantes (CNAIM) do Porto. A "heterogeneidade vincada", expressão utilizada pela própria, revela bem aquele que foi o grande desafio enfrentado. Perante esta realidade, a professora não teve dúvida em implementar uma pedagogia diferenciada.
Começo por assinalar o facto de ter sido preenchida uma ficha sociolinguística e ministrado um teste diagnóstico, que vieram corroborar a heterogeneidade da turma e que reforçaram a convicção da docente na necessidade de aplicação de uma pedagogia diferenciada. A docente parecia já ter esta decisão tomada antes de iniciar os trabalhos com a turma, pois inclui na ficha sociolinguística uma questão sobre os métodos preferidos de trabalho dos aprendentes e outra sobre interesses pessoais.
Quanto à utilização de estratégias que se inserem no âmbito da pedagogia diferenciada, a docente refere a constituição de grupos flexíveis, de acordo com o nível linguístico, da língua e dos ritmos de aprendizagem, a aprendizagem cooperativa ou a produção de materiais para aprendentes de línguas específicas.
Não há, no entanto, referência a instrumentos reguladores da aprendizagem, como o Plano Individual de Trabalho (PIT), que poderia apoiar de forma mais efetiva esta prática pedagógica. Refere a professora que, quando os aprendentes não apareciam durante um número significativo de aulas, lhes era pedido que resolvessem os exercícios mais importantes da unidade temática. Com um PIT, tanto os objetivos como as tarefas da unidade temática estariam claramente definidos, sabendo claramente o aprendente o que teria de fazer. Por outro lado, o PIT poderia contemplar também o estudo autónomo, outra parte essencial de diferenciação do ensino e das aprendizagens.
Quanto ao recurso ao trabalho de casa para efeitos de revisão e sistematização, assim como base para o registo das dificuldades individuais, não é garantido que tal estratégia resulte. Por um lado, sabemos da falta de tempo, por razões laborais, que os aprendentes têm para realizar as tarefas escolares fora da sala de aula. Por outro, trata-se de um público com uma assiduidade irregular.
Em termos de materiais didáticos, parece acertada a criação de materiais para aprendentes de línguas específicas e a adaptação de vários manuais. A criação de tópicos com base nos interesses dos aprendentes é outra das estratégias que se enquadra na pedagogia diferenciada e que merece ser destacada.
Finalmente, uma palavra para referir a preocupação da docente em promover o diálogo intercultural, de que é exemplo a partilha de produtos típicos do país de origem durante a aula.
Em suma, são vários os desafios do ensino e aprendizagem do PLA, assim como da implementação da pedagogia diferenciada neste contexto específico. Se consultarmos o trabalho da docente, vemos quais foram essas dificuldades, que se prendem com a gestão da heterogeneidade na sala de aula (a falta de tempo para a concretização da unidade letiva, devido à divisão em grupos; o facto de certos alunos não reagirem bem a trabalhar em grupo; a sensação de dar mais atenção aos aprendentes que chegam de novo do que aos aprendentes fixos; etc.).
Em resposta a 'João Paulo Pereira'

Re: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA

por Sílvia Santos -
Boa noite, caro formador.

Eu realmente peço desculpa.
Recebi a notificação da sua resposta e logo me dei conta de que me tinha esquecido de algo. Eu no passado sábado estava precisamente a copiar do word a minha reflexão e entretanto a sessão começou. O problema foi que fiquei sem computador, que apenas deixou de funcionar e tive que voltar a entrar no tablet... Nunca mais me lembrei de terminar a reflexão...Entendi tudo o que me enviou e li com cuidado, mas poderei terminar a reflexão? Desculpe, mais uma vez, pelo sucedido.

Obrigada pela compreensão.
Em resposta a 'Sílvia Santos'

Re: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA

por Sílvia Santos -
Nas aulas de Português Língua de Acolhimento encontraremos sempre uma realidade de alunos\formandos com tantas semelhanças e com tantas diferenças entre si, ora grupos que se aproximam, ora grupos que se afastam. As estratégias que teremos que desenvolver, serão sempre diferentes de turma para turma, porque teremos que nos ajustar ao público-alvo que temos à nossa frente ansiosos por aprender.
No caso prático da Professora Raquel Pereira considero que as estratégias que ela utilizou foram boas e nomeadamente eficazes.
A caracterização do grupo com o preenchimento da ficha de identificação e com a realização de um teste diagnóstico, a professora foi capaz de reunir muitos elementos que lhe permitiu pensar e planear as aulas no futuro, como seria de esperar. Também já o fazemos com os nossos grupos de alunos portugueses.
A adaptação\utilização de manuais de acordo com os temas a trabalhar, bem como a produção de materiais ajustados aos formandos são duas boas estratégias, porque a heterogeneidade do grupo assim nos obriga. Os temas trabalhados em contexto de PLA são diversos, mas são um ponto comum a todos os formandos, depois todos os outros materiais elaborados acabam por ir de encontro aos diversos grupos com ritmos de aprendizagem diferentes, ou seja, existem sempre aqueles que rapidamente conseguem e depois aqueles que demoram um pouco mais e até precisam de uma ajuda mais individualizada na resolução dos exercícios. O facto é que, desta forma, os formandos terão materiais que para alguns poderão ser consolidação, mas para outros serão um importante reforço. O trabalho de casa, algo simples e prático, é uma boa estratégia, porque às vezes o espaço temporal entre aulas implica um trabalho de consolidação que os formandos podem, e até gostam, realizar em casa.
Outra estratégia que acho que resultou muito bem no caso da professora, pessoalmente eu acho que resulta sempre muito bem, é a partilha cultural e tendo como ponto de partida a realização de muitas atividades que levem a essa mesma partilha. Quanto mais interesse pela diversidade cultural dentro do grupo, mais os formandos parecem ter entusiasmo em "dar" para também "receber".
O que nos leva a pensar em estratégias que deverão considerar mais os aspetos lúdicos, atividades lúdicas que acabam por ser a forma mais adequada para ensinar e transmitir conhecimentos aos migrantes. O artigo “ Entre o lúdico e o acolhimento” menciona que o lúdico é uma forma de integração e união do grupo de trabalho. De facto, os jogos simples, como o formador passar uma bola ao formando para que ele responda a uma pergunta ou até a dramatização de um texto é o suficiente para sair dos moldes normais de uma aula e, às vezes, é necessário esse tipo de saída, pois os formandos são adultos, estão a aprender uma nova língua e uma aula de teoria sem estes momentos de liberdade, a aula poderá ser monótona, resultando numa aula sem avanços na aprendizagem. É evidente que a criatividade do formador deve estar alinhada com os conteúdos a trabalhar, mas a realização de tarefas que mais parecem “jogos” são uma forma interessante e energética de cativar os alunos que temos em PLA. É também claro que para estas diversas estratégias funcionarem, a relação entre formador e formandos seja de proximidade e de disponibilidade de ambas as partes para aceitar as diferenças
A heterogeneidade de alunos- formandos que temos numa sala de aula de PLA é, de facto, algo desafiante, porque todos já têm conhecimentos prévios adquiridos, conhecimentos na sua língua materna, na sua cultura, cabe-nos a nós proporcionar momentos e dinâmicas que os levem a querer aprender Português e a gostar da nossa língua.