Bom dia a todos e a todas.
Antes de mais, começo por ressaltar que considero que o PLA é uma modalidade de ensino tão peculiar e dotada de tanta falta de formação, recursos e metodologias / estratégias específicas, que é natural que cada docente opte pelo desenvolvimento de uma prática segundo o seu conhecimento da abordagem de outras modalidades da língua portuguesa (ou outras línguas, inclusivamente estrangeiras) para tentar levar a bom porto o trabalho que tem de realizar com o público que lhe corresponde acompanhar em cada ano letivo.
A prova inquestionável desta situação é, logo no início, a identificação dos tipos de materiais utilizados pela professora: “de produção própria da professora” e da realização de uma ficha pessoal (que me parece perfeitamente lógica) e de uma ficha de avaliação diagnóstica que, à partida, era inecessária dado que, basta dominar um bocadinho os conhecimentos básicos das línguas maternas associadas às diferentes nacionalidades dos 14 alunos, para saber que os de língua castelhana apresentariam uma melhor compreensão, em termos gerais; ou seja, perguntando simplesmente se conhecem algo de português, com um sim ou não, ter-se-ia evitado/saltado este ponto porque o resultado era altamente expectável, penso eu. De qualquer forma, é um dos passos recomendado pelo Guia Organizativo do PLA (2022, p.10): “(…), devendo ser realizada, previamente, uma avaliação de diagnóstico, da responsabilidade do formador, que permita posicionar os candidatos no nível de proficiência adequado à avaliação feita e, possibilitando, consequentemente, a constituição de grupos mais homogéneos”.
Em todo o caso, e voltando ao que referi no início desta reflexão, a verdade é que cada docente faz o melhor que pode dentro das suas competências e conhecimentos e também da sua experiência e o que resulta com um grupo, por não resultar com outro ou podem até surgir surpresas dos resultados dos testes diagnósticos…
Passando para o tipo de avaliação, também me parece que uma avaliação contínua não seja a melhor escolha, dada a modalidade de ensino de que falamos. É importante ir ajustando a prática pedagógica ao longo do ano letivo, de acordo com a progressão dos alunos e ter unicamente um momento formal de avaliação (exame final), parece-me realmente muito pouco para obter informação mais detalhada e significativa ao longo do ano para poder adaptar o ensino às necessidades individuais dos alunos.
Por outro lado, a constituição de grupos flexíveis já me parece adequada, embora considerasse também uma distribuição dos alunos por grupo, por nacionalidades. É importante que se sintam acolhidos nas suas diferenças e, na maioria das vezes, estar com alguém da mesma nacionalidade passa por ser um ponto de encontro entre eles, o que os motivará, certamente, mais para a frequência das aulas.
Em relação à adaptação de materiais e à produção de recursos, parece-me uma ação incontornável… Como já mencionei anteriormente, o PLA carece de recursos próprios, daí que o professor não tenha outra opção a não ser a produção livre dos recursos que considera melhor utilizar.
Por sua vez, os trabalhos de casa como forma de revisão e sistematização, parecem-me boa prática embora, nestas idades, possam ser facilmente negligenciados.
Em relação às estratégias de gestão da heterogeneidade na sala de aula, recupero o parágrafo anterior para referir que não me parece, de todo, uma boa ideia compensar a ausência de um aluno com a realização de trabalhos de casa quando se trata da abordagem de uma língua desconhecida. O aluno precisa de orientação e talvez até ajuda para conseguir compreender e resolver os exercícios e atribuir esta responsabilidade a si mesmo, esperando que seja autodidata, é conduzi-lo à desistência.
Julgo ser uma boa estratégia a de criação de tópicos de discussão de interesse comum, partindo de situações ou dados culturais dos alunos, e até a iniciativa da partilha de produtos típicos de cada país. Estas ações, nestas faixas etárias e nestes contextos tão diversificados e peculiares, penso serem altamente atrativas para os alunos, uma vez que estimula a sua motivação intrínseca. É dos poucos momentos, certamente, em que estão em contacto com algo do seu pleno conhecimento e domínio na sala de aula, o que aumenta a sua confiança e pré-disposição para aprender, para poderem partilhar com os demais o conhecimento que já detêm destes elementos culturais. Como diz a própria docente na sua dissertação de Mestrado, “De um modo geral, quando um aluno revela interesse por um determinado tópico, envolve-se nas tarefas propostas com mais empenho, mais motivação e mais entusiasmo” (Pereira, 2017, p. 83).
As conclusões da docente não me surpreendem, honesta e lamentavelmente. Penso que deve ser difícil encontrar um grupo de PLA que não seja heterogéneo e que apresente coesão e sentimento de unidade. São pessoas diferentes, que se expressam em diferentes línguas e com histórias de vida e bagagens, muitas vezes, pouco favoráveis à partilha de conhecimentos e à recetividade perante momentos de encontro. Daí que se registe, igualmente, um alto índice de abandono ou registos de assiduidade irregulares ou deficientes em relação ao número de aulas previsto.
Como eventuais sugestões, proporia a realização de atividades que permitam aumentar a motivação dos alunos (dado que dificilmente se aprende sem motivação) como as que incluem tarefas mais lúdicas, como indica o manual Desenvolvimento de Materiais Didáticos para PLNM (2023). A relação entre o lúdico e os afetos é algo que é mencionado neste manual como uma das melhores formas de chegar aos alunos, dado que expressam, de forma mais interessada e confiante os seus sentimentos e interesses. Por outro lado, a prática de atividades colaborativas como a técnica do Puzzle de Aronson obriga a que cada aluno cumpra a sua parte num trabalho colaborativo, para não prejudicar o grupo (considerando que sentem o peso desta responsabilidade). Também penso que atividades reais (passeios, idas ao supermercado,etc) em direto e fora das quatro paredes (em contexto efetivamente real) convidam à necessidade de posto em prática do que aprendem, por exemplo.
Ainda, exposição oral de situações do seu interesse, como vimos durante as sessões desta ação de formação, também são atividades que estimulam o interesse por parte dos alunos, travando o abandono escolar e cativando-os mais para o seu processo de aprendizagem, de forma mais subtil mas igualmente significativa.
Para terminar, a “língua de acolhimento é um conceito que ultrapassa largamente os saberes linguísticos e didáticos, aglomerando vários elementos de outros conhecimentos, especialmente o socioeducativo e o político” (Grosso, 2021, p. 16) e o professor, tal como indica o manual de PLA-Práticas e Perspetivas, sozinho não consegue chegar a tudo; é necessário um acompanhamento de psicólogos e outros profissionais que ajudem à integração plena destes cidadãos que, por falta de muito mais do que o domínio de uma nova língua, às vezes apresentam lacunas muito mais profundas e difíceis de compensar.