Discussão/ Reflexão: Gestão da heterogeneidade nas aulas de PLA: Caso prático

Reflexão_gestão da heterogeneidade

Reflexão_gestão da heterogeneidade

por Cláudia Elias -
Número de respostas: 1

Antes de iniciar esta reflexão, considero importante referir que não tenho experiência em PLA.

- Como avalia as estratégias utilizadas por esta professora?

Eu considero que as estratégias utilizadas pela professora Raquel Pereira são adequadas ao público-alvo, tentando ir ao encontro de todos os alunos. De facto, é importante que o professor conheça os seus alunos, de forma a orientar a sua prática letiva, procurando, sempre, fomentar aprendizagens significativa. A ficha de identificação dos alunos e o teste diagnósticos são excelentes instrumentos para que tal aconteça.

Quanto às estratégias de gestão da heterogeneidade, considero que, também neste aspeto, a professora foi muito cuidadosa. Ao realizar trabalhos de grupo, a docente está a criar espaço para que os alunos comuniquem, se conheçam e se interajudem. Também é possível confrontar o que foi revelado pelos alunos nas fichas de identificação com a realidade.

A adoção de um manual também é uma boa estratégia. Primeiro, porque não é a única e a docente também procura criar os seus próprios materiais. Depois, porque poderá ser essencial para os alunos para se conseguirem orientar, estudar e fazer exercícios. 

No que concerne à realização dos TPC, considero que seria necessária mais informação para proceder a uma melhor reflexão. Os TPC eram enviados em todas as sessões? Em quase todas ou apenas quando estritamente necessário?

Eu não sou (nem nunca fui) contra os TPC. Contudo, acho que esta estratégia deve ser utilizada com conta peso e medida, sob pena das intenções de "revisão e sistematização" se transformarem em cansaço e frustração.

- Quais as estratégias que acha que resultaram melhor?

Na minha opinião, as estratégias que resultaram melhor terão sido a realização de atividades em grupo e a resolução de atividades criadas pela própria professora (pelos motivos expressos acima).

- Que outras estratégias adotaria (tenha em conta alguma da bibliografia proposta para esta sessão)?

Para além das estratégias utilizadas pela prof. Raquel, considero que seria também importante utilizar materiais didáticos digitais. Normalmente, os alunos assumem-se mais motivados e interessados aquando da utilização deste tipo de recursos. Outra vantagem da utilização dos mesmos é o feedback  imediato após a realização das atividades. O feedback é deveras importantíssimo para o crescimento e sucesso académico dos nossos alunos.

 

Em suma, considero que a prof. Raquel fez um ótimo trabalho, adotando uma postura de compreensão, preocupação e de adaptação para com os seus alunos. Não obstante, para todos nós, há sempre espaço para melhorar.

Em resposta a 'Cláudia Elias'

Re: Reflexão_gestão da heterogeneidade

por João Paulo Pereira -
Cara Cláudia
Apesar de não ter experiência de ensino de PLA, fez uma análise correta da ação pedagógica da professora Raquel Pereira. O grande desafio era gerir a 'vincada heterogeneidade' da turma, com todas as questões associadas à volatilidade deste público em termos de assiduidade, a que se soma uma dimensão afetiva também presente (decorrente do contexto de imigração, com todos os obstáculos e pressão social que existem).
A pedagogia diferenciada foi a reposta encontrada pela docente Raquel Pereira para lidar com a heterogeneidade inerente a este contexto de ensino e aprendizagem. Identificou algumas das estratégias utilizadas neste âmbito, como a constituição de grupos flexíveis. Questiona, muito bem, o uso do trabalho de casa. Também considero que a sua eficácia é limitada, dado sobretudo a falta de tempo dos alunos para os realizar.
Quanto à parte da análise aos materiais utilizados, apenas uma ressalva em relação ao que refere sobre a adoção de um manual por parte da docente Raquel Pereira. Esta serviu-se de vários manuais para criar os materiais para o curso e não adotou propriamente um manual. Mas refere, e bem, que houve a preocupação da docente em criar os seus próprios materiais.
Depois, apresenta como estratégias que podiam ser utilizadas o uso de ambientes e ferramentas digitais. Embora, neste caso, se deva ter em conta que entre o público de PLA há alunos com pouca ou nenhuma literacia digital. Há que pensar na melhor forma de implementar esse tipo de recursos sem excluir ninguém.
Finalmente, faltou mobilizar alguma da bibliografia, como era solicitado.
Para complementar a sua resposta, deixo-lhe a minha própria reflexão sobre este caso.
Enquanto professores de Português Língua de Acolhimento (PLA), devemos ter em conta as idiossincrasias de uma realidade ligada à imigração que levanta questões acrescidas, dada a situação de vulnerabilidade (afetiva, social e económica) em que muitas vezes este tipo de público se encontra. O impacto pedagógico é significativo e exige respostas específicas, idealmente articuladas com outros profissionais (Grosso, 2021). Temos de lidar com um contexto educativo marcado concretamente por: uma heterogeneidade de trajetórias de aprendizagem e de perfis sociolinguísticos; baixa assiduidade dos aprendentes (ou atraso na chegada às aulas), devido a questões laborais ou dificuldades de transporte; condições de vulnerabilidade social e afetiva (Bottura e Gattolin, 2023).
É neste contexto que temos de analisar as respostas educativas de Raquel Pereira, no âmbito do curso ministrado a imigrantes no Centro Nacional de Apoio à Integração de Migrantes (CNAIM) do Porto. A "heterogeneidade vincada", expressão utilizada pela própria, revela bem aquele que foi o grande desafio enfrentado. Perante esta realidade, a professora não teve dúvida em implementar uma pedagogia diferenciada.
Começo por assinalar o facto de ter sido preenchida uma ficha sociolinguística e ministrado um teste diagnóstico, que vieram corroborar a heterogeneidade da turma e que reforçaram a convicção da docente na necessidade de aplicação de uma pedagogia diferenciada. A docente parecia já ter esta decisão tomada antes de iniciar os trabalhos com a turma, pois inclui na ficha sociolinguística uma questão sobre os métodos preferidos de trabalho dos aprendentes e outra sobre interesses pessoais.
Quanto à utilização de estratégias que se inserem no âmbito da pedagogia diferenciada, a docente refere a constituição de grupos flexíveis, de acordo com o nível linguístico, da língua e dos ritmos de aprendizagem, a aprendizagem cooperativa ou a produção de materiais para aprendentes de línguas específicas.
Não há, no entanto, referência a instrumentos reguladores da aprendizagem, como o Plano Individual de Trabalho (PIT), que poderia apoiar de forma mais efetiva esta prática pedagógica. Refere a professora que, quando os aprendentes não apareciam durante um número significativo de aulas, lhes era pedido que resolvessem os exercícios mais importantes da unidade temática. Com um PIT, tanto os objetivos como as tarefas da unidade temática estariam claramente definidos, sabendo claramente o aprendente o que teria de fazer. Por outro lado, o PIT poderia contemplar também o estudo autónomo, outra parte essencial de diferenciação do ensino e das aprendizagens.
Quanto ao recurso ao trabalho de casa para efeitos de revisão e sistematização, assim como base para o registo das dificuldades individuais, não é garantido que tal estratégia resulte. Por um lado, sabemos da falta de tempo, por razões laborais, que os aprendentes têm para realizar as tarefas escolares fora da sala de aula. Por outro, trata-se de um público com uma assiduidade irregular.
Em termos de materiais didáticos, parece acertada a criação de materiais para aprendentes de línguas específicas e a adaptação de vários manuais. A criação de tópicos com base nos interesses dos aprendentes é outra das estratégias que se enquadra na pedagogia diferenciada e que merece ser destacada.
Finalmente, uma palavra para referir a preocupação da docente em promover o diálogo intercultural, de que é exemplo a partilha de produtos típicos do país de origem durante a aula.
Em suma, são vários os desafios do ensino e aprendizagem do PLA, assim como da implementação da pedagogia diferenciada neste contexto específico. Se consultarmos o trabalho da docente, vemos quais foram essas dificuldades, que se prendem com a gestão da heterogeneidade na sala de aula (a falta de tempo para a concretização da unidade letiva, devido à divisão em grupos; o facto de certos alunos não reagirem bem a trabalhar em grupo; a sensação de dar mais atenção aos aprendentes que chegam de novo do que aos aprendentes fixos; etc.).